segunda-feira, 28 de abril de 2008

): do e-book "mulheres dançando em êxtase selvagem"




ela era a menininha
que corria descalça
pelas ruas
uma pequena estrela
a ensolarar o bairro

ela é espanto nos olhos
é alegria espantada
é feliz, e todos o sabem
ainda criança matava leões
e colocava ovos de dinossauro

ela é alegria
ela é potência e fato
pelas ruas, pelas estrelas, pelos olhos
ela vende de graça
flores para os seus.



*


ela não sabia
que a música da vida
é a canção do fogo

ela não sabia
que a vida oscilava
entre ferocidade e compaixão

ela tinha medo
do lance de amar sem medo:
de o medo aceitar.




*


uma mulher são frases soltas
são fases de lua pronta
são apontamentos biológicos
são mapas envenenados
mapas de papel fumaça
mapas astrais desmontados
a desconstruir um homem.



*


ela oferece a manga a adão
que chupa a manga
e tira os fiapos dos dentes
enquanto ela morre.




*


ressaca de ninfas
em naufrágio
invadindo as areias do paraíso:
vazaram do oceano
que fabrica peixes e gentes
um mundo que fabrica mundos

e elas
com hálito de maresia
com roupa de pele branca nua
não sabem que este paraíso aqui é um inferno
que nosso mundo é de desligamento e espanto
de náufragos mal civilizados.



luciano fortunato
escreve para o web-site crônicas cariocas


quinta-feira, 17 de abril de 2008

O DIA DO FOGO (PARTE 2: VULCÃO ATIVO)


então eles sempre ressuscitam / da cidade destruída de pompéia / destruída como história viva / que teima e não morre / história com veias expostas a sangrar / seus dobros viajam no espaço-tempo / trazendo pedras-pomes no espírito / e carvão / e enxofre / e cheiro de vulcão / e imagem de estradinha árida / e curvas como sinapses / como amálgamas / como videotape / como espelho mágico / que mente mentiras sinceras trazidas em cesta de moça / cesta com frutas e fita / como bola-de-cristal sincera / que sabe que as boas mentiras / fazem-nos escapar de sermos pedras /
e o que é afinal um vulcão / senão a terra se mostrando viva? / corpo. terra. líquidos corporais. lava quente / mil vivas à princesa do cosmo, gaia / e sua fábrica de vulcões a cuspir mel /
viva os ressuscitados / viva os que sonham / viva está a nostalgia highlander / o melhor daquele orgasmo hightech / impregnado de sentimento / de eletricidade abissal / de tremores de pompéia / e de toda terra que já tremeu / de toda cama prestes a quebrar / de todo chuveiro de água benta / a fazer reis e rainhas nus / milagrosamente atravessarem paredes / de toda manhã de incêndio calmo /
eles às vezes se lembram de pompéia / quando o sol os toca a pele / numa manhã de domingo / quando se coloca uma blusa verde / quando se escreve com minúsculas / pra saber que são pequenos / e que foram engolidos pelo vulcão.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O DIA DO FOGO



naquele dia havia incêndios
vários focos
naquele dia ele caminhou
debaixo de um sol que martelava os pobres humanos
havia fogo naquele dia
naquele dia havia água
havia sal
havia água salgada
quente e salgada
que brotava
daquele corpo de fêmea amada

:) então eles se banharam
na lama quente
pra lavar almas
pra sacodir
a poeira dos dias.

luciano fortunato