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Comentarista, sim. Crítico, não.
Meu pequeno museu de novidades
Após quase dois anos escrevendo sobre música para este super-elegante website, é provável que algum dos meus poucos leitores esteja a se perguntar “o que esse cara ouve em casa?”. Bem. É apenas uma suposição. Talvez ninguém pergunte isso. Me baseio no fato de que eu mesmo já me perguntei várias vezes o que os críticos gostavam de ouvir “de verdade”, fora das resenhas submetidas, como se supõe, a “obrigações estético-ideológicas” do jornalismo musical fascista. Não que eu também não seja vítima dessa síndrome de “inculcação” de gostos. Longe disso. Sou manipulado também. Contudo, dentro desse sistema de manipulação estética, crio meus “gostos” pessoais, que são muito, muito vastos, onde cabem Miles Davis, Belchior, Fábio Júnior, Benito di Paula e A-ha.
Eu não sou crítico musical, sou apenas um ouvinte de música e um modesto compositor, e vou até fazer uma confissão aqui que me descredibiliza: estou sem ouvir rádio há quase dois anos. E, na minha insignificância de “comentarista” de música, comentarei brevemente sobre o que tenho ouvido no último ano e meio, nas minhas feias, porém lindas, caixas acústicas de madeira.
Algumas notas – Acho que o “Sim”, da Vanessa da Mata, foi, verdadeiramente, o disco popular nacional mais importante do ano passado. Sensível, bem gravado, cheio de swing, feminino, autoral, confessional. Toda a badalação foi merecida. Aguardando estou o momento de assistir ao DVD da morena.
No começo de 2007 (e final de 2006) fiz grandes descobertas, graças ao sistema anárquico de compartilhamento de músicas na web, do qual sou defensor, com destaque para o nosso querido E-mule. E é isso aí. Tá sem grana? Vai lá e baixa o disco que tanto te interessa – não está roubando, mas, sim, “pegando” de um “amigo” que está disponibilizando aquilo. Embora eu adore entrar em loja de disco e comprar, é óbvio que não posso adquirir todos aqueles que desejo e “preciso” ouvir. Então, fazer o quê?
Antes de baixar da Internet, e ouvir pra crer, eu não compraria, por exemplo, um CD dos britânicos Arctic Monkeys. Agora, posso comprar de ouvidos fechados, pois o troço é muito bom. Um rock caótico, esparramado, cru, com um vocalista que me lembra muito o Lennon – eu acho. Não há virtuosismo: só um som nervoso e ao mesmo tempo simpático. E boas melodias também, não posso esquecer disso. // Outra grande descoberta foi a banda (americana? canadense?) Wilco. Eu já conhecia uma ou outra música do Wilco antes de baixar mais coisa deles. Mas agora... puxa vida... Depois de conhecer mais da banda eu digo que são excelentes. Seu último disco, “Sky blue sky”, é primoroso. Sabe aquele som novo com cara de velho? Pois é. Um pouco de country, um muito de blues, uma guitarra alucinógena e uma voz doce. Uma puta banda. // Um amigo me deu dois CDs da banda francesa Nouvelle Vague. E, vou te contar, ele me salvou da mediocridade. Quanta ignorância minha... O primeiro disco do Nouvelle Vague é de 2004 e só há dois meses os descobri. Isso é uma vergonha. Sabe como é o som? Pra quem não sabe, é o seguinte: um grupo de franceses apaixonados por punk, new wave e bossa nova, gravam covers de bandas como Joy Division , The Clash, The Cure, Depeche Mode, Dead Kennedys... tudo na voz de excelentes cantoras, que se revezam, cantando os sucessos, na maioria das vezes, executados em ritmo de bossa nova. Sem dúvida alguma, é a melhor bossa nova feita por gringos que eu já ouvi. Como escrevi no título de uma matéria para esta revista eletrônica, é uma “bossa nova punk”. Gente: ouçam Nouvelle Vague! // Na seção trilha sonora, ouço com prazer a trilha do filme Richard Linklater, Wanking Life, que, como tudo aqui, não tem nada de novo, composta pela Tosca Tango Ochestra. A Tosca... não é uma orquestra propriamente dita, mas um pequeno grupo de músicos que tocam tango com roupagem jazística. O resultado é delicioso, e, sim, novo. Pega bem com vinho. // Outro amigo me presenteou com os sete álbuns do Creedende Clearwater Revival. Mais uma vez me deparo com minha, cada vez mais evidente, ignorância musical. Eu só conhecia os hits do grupo. Mas que coisa... Estou apaixonado agora. Todos os discos são impecáveis. Tô sentindo que o som deles pode ter influenciado profundamente o Led Zeppelin. Querendo, grave qualquer um dos sete – todos são muito legais. Mas fuja das coletâneas. Pois nessas você vai perder as deliciosas faixas com blues de oito minutos, cheios de experimentações. É um rock básico. Mas dizer básico é pouco. É muito mais que isso. O Creedence parece ter feito uma ponte entre o rock tradicional dos anos 50 e 60, e o que viria, com hard rock como o conhecemos. // Na minha onda retrô, tenho aproveitado para preencher alguns hiatos auditivos, como o disco “I Got Dem’OI Kozmic Blues Again Mama!”, da minha grande dama Janis Joplin, que contém a canção “Try”. Gravado em 1969, ano em que nasci, o disco é lindo. Mostra que, além de “bluseira”, Janis deu gás também à soul music. // O papo está se alongando e não vou mesmo poder contar todas as coisas legais que tenho ouvido – na verdade mal comecei.
Acho que os arrojados e belíssimos últimos discos de Caetano e Djavan não tiveram a atenção merecida – principalmente o do Djavan, “Matizes”. Contudo, claro, há muito mais gente que merecia aparecer e não aparece, ou aparece muito pouco. O mercado ainda é cruel. Tá mais democrático, mas ainda é uma selva. E, diante do estado anárquico (e bacana) em que estamos vivendo, os nossos medalhões da MPB não têm muito do que reclamar, na verdade. Há, por exemplo, exímios compositores, instrumentistas e intérpretes de samba no Rio de Janeiro que ainda não saíram da garagem (digo, dos bares) e mantém sua música como hobbie, por força das circunstâncias mercadológicas.
Queixas à parte... Minha grande expectativa está para o registro em DVD dos shows de Marisa Monte, realizados no ano passado. Isso, me perdoem meus queridos amigos piratas da grande rede, eu faço questão de comprar na loja, “original”, no plástico, lacrado, e com papel de presente.
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